Anotações Biográficas (1): Humberto e Glória

Mas eu e a minha família servi­remos ao Senhor”

PRIMEIROS ANOS

Nasci na pequena cidade de Sapé, Estado da Paraíba, no nordeste do Brasil, no dia 2 de março de 1930. Hoje, já posso dizer que tenho uma ideia bem completa dos meus pais, embora não tenha tido um contato consciente com o meu pai, o qual faleceu quando eu tinha apenas pouco mais de 1 ano e meio de vida. Meus pais, Oseas Silveira e Lydia Andrade Silveira, eram muito unidos e muito felizes. Eram ambos muito religiosos e em todas as suas atividades, invariavelmente incluíam os trabalhos da igreja. Pertenciam à Igreja Batista e nas cartas que possuo até hoje, que foram trocadas entre os dois, por ocasião de seu noivado, quando houve necessidade de ele trabalhar em outra cidade, pude sentir de forma bem clara o quanto eram ambos possuidores de excelentes princípios, que certamente provinham dos ensinamentos da Igreja e, porque não, de suas famílias de formação ética extremamente rigorosa.

ORDEM CRONOLÓGICA DOS FATOS

Procurarei, dentro do possível, mencionar os acontecimentos em ordem cronológica, entretanto, como logo ficará evidente, nem sempre é muito simples interromper ocorrências de um ramo da família com acontecimentos simultâneos de um outro ramo, portanto, iniciarei pelo meu lado paterno, depois lado materno e ao chegar no meu casamento, interromperei para incluir a família de minha esposa.tings.

VOVÔ MANUEL ENTERRA AS IMAGENS

Antes de se tornar protestante, o vovô Manuel do Espírito Santo (pai do papai), tinha em casa uma quantidade grande de imagens de santos da Igreja Católica. Um dia ao ler o livro dos Salmos, encontrou uma escritura que mudou sua maneira de pensar. Quebrou e enterrou todas as imagens que tinha em casa. Mais tarde entrou para a Igreja Batista e depois passou para a Igreja Presbiteriana.

CASAMENTO DA AVÓ DE VOVÓ MARIANA

Um catequista português pediu licença a Roma para se casar com a filha do índio Biriba. Essa moça era a avó da vovó Mariana Anselmo dos Santos. O nome índio Biriba significa “Pau que verga mas não quebra”, em Tupi-Guarani. (Esta informação parece não ser correta pois mais tarde a titia Nenzinha declarou que Biriba era seu tio e não seu bisavô).

OS FRADES PAULO E DAVI AJUDAM NA CRIAÇÃO DA VOVÓ MARIANA

(de uma entrevista com a tia Nenzinha, Maria Espírito Santo, em João Pessoa (PB), estando ela com 81 anos de idade.)  A sua avó materna, ao que tudo indica, era pessoa de parcos recursos, tendo recebido assistência da Igreja Católica, representada pelos Frades Jesuítas Paulo e Davi, aos quais a família muito se afeiçoou, e que conseguiram um privilégio para a família, uma “carta-leiteira” para ajudar na alimentação da recém-nascida Mariana, a mãe da tia Nenzinha. Esse documento devia ser uma espécie de auxílio-natalidade em uso na época. A tia Nenzinha menciona seus avós maternos como Manuel Anselmo e Carolina Ramos de Jesus, tendo omitido o último sobrenome do avô, cujo nome ao que sabemos era Manuel Anselmo dos Santos.

AS VOCAÇÕES DA FAMÍLIA

Titia Nenzinha (Maria do Espírito Santo), irmã do papai disse-me uma vez que as vocações da família Andrade e Silveira são : Escrever, lecionar, música e engenharia.

O ÍNDIO BIRIBA E A EPIDEMIA DE CÓLERA MORBUS

O índio Biriba foi um tio da tia Nenzinha e era um homem muito forte, tendo ajudado a carregar muitos cadáveres para jogar na vala, por ocasião da grande epidemia de cólera, sem nunca ter tido sequer uma dor de cabeça. O nome Biriba significava, muito apropriadamente, “Pau Que Verga Mas Não Quebra”.

OS PRIMEIROS ANOS

A tia Nenzinha estudou na Escola Normal de Sergipe e após ter recebido o diploma,
após terem se mudado para Recife, tendo sentido desejo de estudar teologia, internou-se na Escola de Trabalhadoras Cristãs, atual CESC, para formar-se como missionária. Após o curso, foi aproveitada como professora no Colégio Batista do Recife, onde trabalhava e estudava ao mesmo tempo. Depois, quando se mudaram para João Pessoa, ela veio a conhecer o paraibano Santino Sales, também batista, com o qual se casou. Ela referiu-se ao tio Santino como tendo sido “escolhido por Deus” e disse que foram felizes por quarenta e seis anos, em um céu na terra.

ORIGENS ÉTNICAS

Inquirida sobre o pretenso antepassado alemão, negando as informações que eu tinha recebido da Helena, ela disse que não houve alemães entre os nossos antepassados e que o seu avô paterno era índio e a esposa uma rica portuguesa. Já o pai dela, Manuel do Espírito Santo recebeu esse nome por ter nascido no dia do Espírito Santo. Ela disse ainda que os seus avós Manuel Anselmo e Carolina, foram de uma tribo domesticada pelos já mencionados frades, os quais ensinaram o Manuel Anselmo a ler e a tornar-se um profissional na fabricação de açúcar. O sobrenome Anselmo foi dado na ocasião do batismo (ou casamento) por ser dia de Santo Anselmo.

TITIA NENZINHA COMO PROFESSORA NO COLÉGIO AMERICANO

Embora baixinha e de fala mansa, ela foi colocada numa classe do 4o ano, chamada a classe dos Insubordinados. Quando lhe perguntei como se saía ela disse que o seu grande recurso era a ajuda de Deus. Ela pedia em oração e Ele ajudava. O Diretor, o Dr. Freire dizia : “Eu não sei como esta mocinha toma conta desta classe, junto da secretaria, num silêncio tão grande !” A titia explicou : “Não havia um aluno ruim para mim. Todos me obedeciam e me estimavam mas, o dirigente principal era Deus ! Eu pedia a Deus orientação, direção Dele. Eu precisava ensinar, e assim venci. O Dr. Milready disse : “A senhora não vai aguentar, vamos experimentar até junho e se não aguentar…” Mas em junho eu estava mais forte e venci o ano com facilidade.

DIFICULDADES ATUAIS

Depois da morte do tio Santino ela passou a ter muitas dificuldades, lutando até na justiça para solucionar o problema do sítio do vovô Manuel, que fora invadido. Disse ela : “Deus proverá, orientará juízes, advogados e tudo será resolvido !”

FILHOS E NETOS

Terminamos a entrevista, ela muito feliz, falando de seus 14 netos e 12 ou 13 bisnetos, disse : “Tenho netos e bisnetos em quase todo o Brasil, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, na Bahia, no Paraná, no Ceará.” deu um sorriso feliz – “Recebi uma porção de retratos de bisnetos !”

O RELACIONAMENTO POLÍTICO DO PAPAI

Tendo perguntado sobre o meu pai, Oséas Silveira, irmão dela, disse-me que ele era um servo de Deus e que “valia a pena privar da amizade e intimidade com ele. As pessoas com quem se relacionava eram pessoas selecionadas. Ele não queria nenhuma pessoa viciada ou de maus costumes o acompanhando. Era um exemplo de homem de bem.” Tinha várias amizades elevadas. O finado ex Presidente da República, o Dr. Epitácio Pessoa, era amigo dele. Ele manteve correspondência com Epitácio Pessoa quando este esteve representando o Brasil na Europa. Corresponderam-se a respeito de diversos assuntos de interesse nacional, inclusive o Pacto Kellog. Em atenção a um pedido que veio da Áustria, o Oséias foi o intermediário de  Epitácio Pessoa quando tratou do Pacto Kellog em Haia.
Mencionou ainda que o papai foi condecorado com o título de Samideano (condecoração ligada ao estudo do Esperanto) e recebeu a condecoração “La Bela Verdestelo” que significa “A Bela Estrela Verde” em Esperanto. Ele traduziu um hino para o Esperanto, “É de Teu Cuidado Terno”, o qual foi muito apreciado no meio Esperantista, tendo ele recebido um
prêmio que veio da Áustria. Em vista desse relacionamento com os Esperantistas Austríacos é que mais tarde ele veio a participar de relacionamentos políticos do governo.

BIOGRAFIA DO PAPAI

Tendo conseguido reunir alguns documentos importantes da vida do papai, coloquei-os em ordem cronológica para constituir esta pequena biografia.
Oséas Espírito Santo, filho de Manuel do Espírito Santo e Mariana do Espírito Santo, nasceu em Aracaju, Sergipe, no dia 4 de Julho de 1896. Era o filho mais velho e tinha dois irmãos : Octávio e Maria (apelidada de Nenzinha). De sua infância tenho poucas informações. O seu pai era muito severo e uma ocasião disse-lhe que ele devia ser muito corajoso e nunca apanhar de ninguém na rua. Um dia, estando brincando com alguns companheiros, um deles deu-lhe um tapa de brincadeira. Notando que estava sendo observado pelo pai, ele imediatamente revidou com violência, batendo no colega. Resultado : o seu pai levou-o para casa e deu-lhe uma surra. Entretanto o vovô Manuel era um homem muito correto e de caráter. Embora tenha tido outros episódios em que foi muito duro com alguém, sempre visava a justiça e o direito.

EMPREGOS

Em 31 de Outubro de 1918 o papai foi admitido como adjunto de professor, do curso de desenho da Escola de Aprendizes e Artífices do Estado de Sergipe. Em 16-Jan-1919 a firma J. Bandeira & Duarte lhe mandou uma carta da qual transcrevo : “Muito lamentamos, com a sua retirada, ficarmos privados dos seus bons serviços e, diante do seu procedimento exemplar no fiel cumprimento de seus deveres e a confiança que sempre fez por nos merecer, durante o curto tempo que foi nosso empregado, não podemos deixar disto salientar com os nossos melhores agradecimentos.” Da firma Viterbo & Companhia transcrevo : “Declaramos que o Sr. Oséas E. Santo, como nosso empregado, sempre cumpriu fielmente todos os seus deveres e sai hoje de nossa casa comercial por sua livre e espontânea vontade.”
Em 30-Set-1919, tendo participado de concurso, foi nomeado para o cargo de professor de desenho, efetivo, na Escola de Aprendizes e Artífices.

ESTUDO

Embora trabalhando em diversas firmas, o papai continuava os seus estudos. Registrei algumas notas que obteve em Dezembro de 1919 :
Português                 9,0
Inglês                   10,0
Aritmética                6,75
Registrei também algumas notas obtidas em Dezembro de 1920 :
Latim                     8,66
Física/Química            4,0
Geometria e Trigonometria 4,66

OUTROS EMPREGOS

Em 16-Jun-1923 o papai preencheu uma solicitação de emprego à firma Anglo-Mexican Petroleum Company, Ltd. (atual Shell do Brasil), tendo sido aceito. Em 15-Ago-1928, foi nomeado lente efetivo da cadeira de Inglês do 1o ano da Associação dos Empregados no Comércio da Paraíba.

CASAMENTO

Papai e mamãe casaram-se em 10 de Setembro de 1924 em Aracaju, Sergipe.

REGISTRO DE VIAGENS

Em Agosto de 1928 anotei :
1. Saímos de Cabedelo pelo Iatanagé às 10 horas e chegamos ao Recife às 16.
2. Passamos o dia no Recife. Saímos do Recife às 12 horas da madrugada.
3. Passamos viajando.
4. Chegamos à Bahia às 10 horas e tomamos o trem às 4 1/2 da tarde.
5. Chegamos em Aracaju às 10 horas da manhã.
16. Saímos de Aracaju pelo Miranda, às 11 horas.
17. Chegamos à Bahia às 11 horas.
18. Alberto saiu da Bahia pelo Itaquicé, com destino ao Rio de Janeiro.
19. Passamos o dia na Bahia.
20. Saímos da Bahia às 16 horas pelo Manaus.
21. Chegamos a Maceió às 19 1/2 horas.
22. Saímos de Maceió às 16 horas.
23. Chegamos ao Recife às 7 horas e saímos às 20 horas.
24. Amanhecemos em Cabedelo.

CARTAS E MAIS CARTAS

Embora o papai tenha se demonstrado um homem culto e íntegro, a época em que viveu, foi repleta de dificuldades, em vista da grande recessão mundial ora em curso. Ele teve que fazer malabarismos para se manter e, na sua movimentação para outras cidades onde houvesse mais chances de colocações, ficou muito tempo longe de sua adorada Lydia (mamãe), com quem trocou centenas de cartas, desde Jun-1920 até Set-1924, formando uma pilha de cartas (deles dois) com 12 centímetros de altura. Ainda penso em reescrever estas cartas, que fariam um romance real de notável sentimento e calor humano e, editá-las à parte, não neste trabalho.

A ENFERMIDADE

Conservo 4 cartas do papai, dirigidas ao vovô Jucundino, de 13-Mai-1930 até 30-Ago-1931 (Nota : Ele faleceu em 22-Nov-1931). Nas duas primeiras, embora ele não fale de sua saúde senão poucas vezes, nota-se, nas entrelinhas, sua preocupação pelos filhos que ficaram em Aracaju enquanto ele trabalhava na Paraíba. Já na terceira carta ele demonstra muito otimismo com relação a novos medicamentos para o combate à tuberculose mas que, hoje sabemos, estavam bem longe dos antibióticos que vieram muitos anos depois. Já na última carta nota-se até mudança na caligrafia, parecendo que outra pessoa estava escrevendo. Ele descreve os sintomas e o seu estado grave mas, sem desespero, sempre com serenidade. É uma carta tocante, a última que escreveu para o sogro que tanto estimava. Esta última carta foi escrita de Itabaiana, Sergipe, e a mamãe estava com ele. Certamente a doença naquele tempo era considerada como um grave perigo, portanto, nós, os filhos, ficamos em Aracaju com o vovô. Mamãe esteve com ele até o último momento.

A MUDANÇA DE NOME

Tenho comigo o processo de mudança de nome do papai. Ele havia sido registrado com o nome de Oséas do Espírito Santo e, por motivo religioso, em respeito ao sagrado nome do Espírito Santo, resolveu mudar seu nome para Oséas Silveira, o que foi oficialmente autorizado em 13 de Dezembro de 1930, conforme Certidão do Cartório Mário X. de Oliveira, Oficial do Registro de Títulos e Documentos de Aracaju(SE). Todo o processo ocupa 12 páginas manuscritas.

ÚLTIMOS RECONHECIMENTOS

“Cumpre-nos comunicar-vos que em sessão de Assembleia Geral… fostes aclamado Presidente de Honra, por tempo indeterminado, da Sociedade Exército Cristão…” 21-Ago-1930.
“É-nos particularmente grato declarar que o Sr. Oséas Silveira esteve a serviço desta Companhia durante o período de 20 de Junho de 1923 até esta data, e hoje se retira por sua livre e expontânea vontade. Cumpre-nos também aduzir que durante o tempo que esteve a nosso serviço, o Sr. Silveira sempre se conduziu com o máximo critério e honestidade, desempenhando a inteiro contento os encargos que lhe foram confiados. Paraíba, 30 de Agosto de 1930. Anglo-Mexican Petroleum Company, Ltd.”

VISITA A OCTÁVIO ESPÍRITO SANTO

Estando o tio Octávio, irmão de meu pai, com 82 anos de idade, fizemos-lhe uma visita em Barra Mansa (RJ).
O tio Octávio, que ficara viuvo há 7 anos atrás, casara-se novamente com a nossa nova tia Victória, da qual darei mais detalhes a seguir.
Fomos muito bem recebidos pelo casal e, infelizmente o tio Octávio não tinha condições de lembrar-se de quase nada, devido à idade e, a gravação em cassete que fizemos, quase nada nos informou.
De sua Bíblia de família copiei os dados genealógicos da família que me foram úteis para comparar com os dados que já possuía, fazendo pequenas alterações.
Anotei os dados do novo casamento :
Octávio Espírito Santo e Victória Nardelli,
casados em Barra Mansa (RJ), no dia  18-Mar-1976,
ele nascido em 20-Nov-1900 em Aracaju(SE)
ela nascida em 14-Mar-1910 em Passa Vinte (MG).
Vimos emoldurado na sala o seguinte diploma do tio Octávio :
“The Rochester Atheneuen the Mechanics Institute” by Authority of the Directors grants this Diploma OCTÁVIO ESPÍRITO SANTO in testimony of the complection in a satisfatory manner of the evening mechanical course prescribed by this Institucion in the School of Industrial Arts.
Rochester – New York – 9 Jun 1921 – Diploma no. 319.
President – Royal Bailey Barnon
Director – Kerman Martin.”
Também encontramos no livro “Brasil e Brasileiros de Hoje”, direção de Afranio Coutinho, vol. 1, editado no Rio de Janeiro em 1961, na pg. 439, o seguinte :
“OCTÁVIO ESPÍRITO SANTO – Engenheiro, jornalista, professor. Nascido em Aracaju (SE) em 20-Nov-1900, filho de Manuel do Espírito Santo e Mariana do Espírito Santo. Casado com Micol Gueiros Santo. Filha, Kelita. Instituto : Siracuse University, Rochester Athenauen and Mechanics Institute – curso de Extensão em Washington e Progresso Uruguai. Carreira : Administrador Geral de Obras, Porto, Paraiba. Diretor do Instituto Profissional Coelho e Campos, Aracaju SE. Catedrático : Colégio Estadual – Sergipe. Deputado Estadual Sergipe. Diretor: Colégio de Sergipe. Tradutor de livros e revistas do inglês e castelhano. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Associação Sergipana de Imprensa. Obra: Páginas Poéticas. Enderêço de residência: Av. Ivo do Prado, 1162. Endereço oficial: Colégio Estadual de Sergipe, Aracaju SE.”

A tia Victória a seguir contou-nos como foi seu casamento com o tio Octávio. Filha de fazendeiros, casou-se pela primeira vez aos 13 anos de idade e teve 16 filhos. Tornou-se adventista quando a família se mudou para perto de Bananal SP, para uma fazenda. Conheceu o tio Octávio através de sua filha e marido, que moravam em Macaé. É importante mencionar que o marido de sua filha é pastor e chama-se Lázaro Bueno de Freitas.
Em Outubro de 1975 ela foi convidada para passar uma tarde na casa de sua filha, na praia, quando também, havia sido convidado o casal Octávio e Micol. Foi uma tarde muito agradável e ela e o casal fizeram uma boa amizade. Dois meses depois dessa ocasião, em Dezembro, ela recebeu a triste notícia do falecimento da sua nova conhecida, a tia Micol.
Transcrevo a seguir a narrativa nas próprias palavras da tia Victória :
“Algum tempo depois o Octávio começou a me escrever cartas e eu respondi somente a primeira. Algum tempo depois, o meu genro Lázaro aconselhou-me a responder as cartas. Disse-me que seriam cartas missionárias, pois ele estava muito abatido. Disse que eu nem iria reconhecê-lo. Escrevi duas cartas de resposta e ele então falou francamente que precisava de uma companheira, que estava muito só e sem muita esperança de achar, naquela idade, uma companheira, em outras palavras, perguntou se eu queria casar com ele. Respondi que nem me
lembrava dele muito bem, que só havíamos conversado uma tarde e que seria bom se pudesse vê-lo novamente. Duas semanas depois ele apareceu aqui. Então fomos ao cartório e perguntamos à funcionária se era possível realizar um casamento no momento. Ela disse que era impossível e que somente poderia ser feito para uns 30 dias depois. Perguntou quem eram os noivos. Falei que era um senhor de Aracaju e uma senhora daqui. Fiquei com vergonha de dizer que era eu mesma. Então eu expliquei que o casamento precisava ser logo porque o referido senhor estava com a saúde abalada e precisava casar-se logo. Ela disse que isso poderia ser feito se se conseguisse com um médico um atestado “robusto”. Dalí mesmo fui ao Dr. Sebastião e pedi a ele um atestado. Ele me fez várias perguntas e eu o orientei. Disse como deveria ser o atestado e ele fez tudo direitinho como eu falei. Voltei ao cartório e mostrei o atestado à funcionária. Ela leu e disse que com aquele atestado faria o casamento até “hoje mesmo”. Não concordei e marcamos para o dia seguinte às 10 horas, para poder me apresentar melhor e também para trazer as testemunhas. Convidei o meu genro em Volta Redonda e também o meu filho de Barra Mansa. Nenhum dos dois acreditou e foi um custo convencê-los de que eu não estava brincando. Expliquei para o meu filho que assim como o Octávio estava solitário e precisava de uma companheira, eu também sentia-me muito só e não faria mal ter também um companheiro. No dia seguinte então nos casamos e somos muito felizes até hoje. Eu vivia há 12 anos sozinha, de modo que o casamento nos favoreceu aos dois. O que eu puder fazer por ele, eu faço !”
Ao final da visita o tio Octávio deu um belíssimo testemunho de sua crença em Jesus Cristo e na certeza que tem de que Ele voltará em glória no final dos tempos. Agradeceu ao Senhor pela excelente segunda esposa, no seu dizer, um milagre dos céus. Falou muito bem de seu irmão mais velho, Oséas (o meu pai), lamentando a sua morte precoce. Disse que eram grandes amigos e que ele era muito estudioso.
Anotei ainda mais alguns dados sobre os trabalhos do tio Octávio :
“Artigas e a Liberdade” poema do tio Octávio em homenagem a José Gervasio Artigas, referindo-se ao livro do mesmo. “A Sublime Harmonia”, um libelo contra a escravatura e a opressão.
No livro “Artigas en La Poesia de América”, de Daniel Hamerli Dupuis, encontramos na página 717 as mesmas referências do livro “Brasil e Brasileiros de Hoje”, que já citamos acima, e mais que ele foi redator-chefe das revistas “Vida e Saúde” e “O Atalaia”. Traduziu também o livro “El Mundo del Futuro”  de Daniel Hamerli Dupuis, entre outros livros. Mais alguns de seus sonetos e poesias : “Romeiros à Lapa”, “Monografia Folklórica”, “Folhas Soltas”, discursos, artigos, etc.

MAGISTÉRIO E VIDA POLÍTICA DE ORESTES DE SOUZA ANDRADE - Meu bisavô.

ESTADO DE SERGIPE

13-Dez-1854 – Nascimento em São Cristóvão, Sergipe (Antiga capital do estado de Sergipe Del Rey)

18-Fev-1878 – Nomeado Professor Público de Gararu, Sergipe;
Jan-1880 – Removido para Pacatuba, Sergipe por perseguições políticas;
16-Mai-1881 – Mudou-se para N. Sra. das Dores, Sergipe;
4-Mar-1882 – Mudou-se para Siriry, Sergipe;
12-Abr-1886 – Voltou para Pacatuba, Sergipe 
26-Abr-1886 – Voltou para Siriry, Sergipe;
13-Mai-1886 – Voltou para Gararu, Sergipe então denominada Curral de Peixes;
13-Out-1888 – Removido para Divina Pastora;
8-Fev-1894 – Jubilado com 15 anos, 11 meses e 7 dias de magistério.
1895 – 1897  – Deputado para 1 triênio por Vila Nova (atual Neópolis, Sergipe);
1896 E 1897 – Presidente do Conselho de  Divina Pastora, Sergipe;
1898 e 1899 – Intendente de  Divina Pastora, Sergipe;
1912 e 1913 – Presidente do Conselho de N. Sra. das Dores, Sergipe;
1913            – Deputado para uma vaga na Assembléia;
1913            – Eleito Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe;
Set-1913      – Reeleito Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe;
Jan-1914      – Eleito Presidente do Conselho de N. Sra. das Dores, Sergipe;
1914 e 1915 – Eleito para a Legislatura;
1914 e 1916 – Intendente de N. Sra. das Dores, Sergipe;
Em diversas épocas – Delegado de Polícia em Divina Pastora, Sergipe e em N. Sra. das Dores, Sergipe;
1917 – 1919  – Deputado;
1920 – 1922  – Deputado;
1921 – 1922  – Eleito Intendente de N. Sra. das Dores, Sergipe;
Jan-1923      – Reeleito Presidente do Conselho de N. Sra. das Dores, Sergipe;
Jan-1926      – Eleito Presidente do Conselho de N. Sra. das Dores, Sergipe;
1926 – 1928  – Eleito Deputado.
NOTA: Em 22-Set-1913 foi nomeado Diretor de Instrução Pública pelo General Siqueira, cargo que não aceitou por motivos particulares. Também foi convidado para substituir Sylvio Motta na Secretaria do Governo e não aceitou pelos mesmos motivos.
O CASO DO ARCANJO GABRIEL

A mamãe ainda não era casada quando isso aconteceu. O vovô Jucundino na qualidade de um dos líderes da Igreja Batista, em Aracaju, costumava receber e hospedar os crentes que frequentemente visitavam a cidade e, naquele dia, quando aquele senhor bateu lá em casa, foi imediatamente confundido com um “crente” desejoso de hospedar-se, tendo sido introduzido na casa sem demora nem formalidades. Quando alguém lhe perguntou o nome, disse :
– Arcanjo Gabriel !
As pessoas da casa que ouviram, acharam talvez o nome um tanto “diferente” mas, a coisa ficou por isso mesmo.
Logo travou-se uma interessante conversa sobre a Bíblia e assuntos doutrinários e todos ficaram maravilhados com a sabedoria, discernimento e profundo conhecimento do visitante.
Tão interessante tornou-se o debate que transcorreu a tarde, o vovô chegou do trabalho e logo estava também mergulhado na conversa, transcorreu a noite e lá pela madrugada alguém notou o avançado da hora e resolveram todos ir dormir. Ninguém sequer havia jantado, todos tinham se esquecido, engolfados no extraordinário debate.
De manhã, que surpresa, nenhum sinal do “Arcanjo Gabriel”. O vovô depois inteirou-se de que naquele dia nenhum desconhecido havia desembarcado nem saido cedo da cidade (naquela época Aracaju era bem pequena e bem provinciana). Como vovô era Secretário Correspondente e Tesoureiro da Igreja Batista da Área Alagoas – Sergipe, escreveu para todas as Igrejas da Região indagando daquela “sumidade” que o havia visitado. Ninguém sabia de nada, ninguém jamais tinha ouvido falar daquele senhor.
Por muito tempo a família relembrou com admiração a visita do “Arcanjo Gabriel” !

CARTA DE JUCUNDINO DE SOUZA ANDRADE AO SEU FILHO ALBERTO

Trechos de uma carta datada de 18-Ago-1932, de Jucundino de Souza Andrade ao seu filho Alberto Mazoni Andrade, a pedido deste último :

“Quanto à biografia de nossa família, posso lhe dar agora mesmo o que me diz respeito e à minha mãe. Com relação a esta preciso dizer-lhe que se deram na vida dela fatos que encarados à luz dos preconceitos sociais, seria melhor não serem registrados. A verdade, porém, é que nenhuma mulher foi e é mais digna de que ela, porque, colocada em uma situação que para muitas outras seria um declive por onde rolariam para o abismo, ela soube sustentar-se digna e honestamente.
A sua vida pode ser traçada em poucas linhas. Educada por uma mãe muito ignorante, ingênua e descuidada, ela foi seduzida com a idade de 17 anos e abandonada pelo sedutor. Conservou-se honestamente em casa da família. Com a idade de 19 anos, meu pai, que é primo dela  e da mesma idade (meu pai Orestes era filho de José Gregório de Souza Andrade, irmão de Josefa Maria de Jesus, mãe de minha mãe Ana Maria de Souza), foi passar uns tempos na Estância(SE), amaram-se e eu fui o fruto deste amor… sem licença do padre. Meu pai quiz casar-se com ela, mas o pai dela se opoz, alegando que ele ainda não tinha um meio de vida. Ele voltou para São Cristóvão(SE) onde residia meu avô e esqueceu minha mãe. Depois disso a vida começou a tornar-se intolerável para ela em casa de minha avó, pela perseguição que lhe movia o padrasto (minha avó tinha se casado novamente). Por esse tempo apareceu na Estância um negociante de Penedo chamado José Vieira de Mello, o qual tinha ido ali a negócio e, como lá se demorasse, teve ocasião de conhecer minha mãe e convidou-a para ir viver com ele. Embora repugnasse a minha mãe a situação social em que ia ficar, refletiu que para ela o futuro estava comprometido e se lhe apresentava muito sombrio, pois vivia desamparada de tal maneira que até fome chegou a passar. O homem lhe tinha prometido criar-me e educar-me como filho. O seu e o meu interesse lhe fez aceitar a oferta que ia salvá-la da prostituição em que certamente acabaria se precipitando se continuasse naquela vida atormentada. Foi assim que estando eu com a idade de 4 anos, nos mudamos para Penedo. O homem não se podia casar com minha mãe porque era casado. Por isso ela foi obrigada a viver em concubinato com ele. Uma situação que para muita gente é deprimente, para nós foi uma tábua de salvação e a ela eu devo ter preservado o meu futuro e poder considerar-me um protegido de Deus. O homem cumpriu o que prometeu e tratou-me e educou-me como filho e tratou bem a minha mãe, que por sua vez guardou-lhe a fidelidade de esposa. Eu sempre o chamei pai e agora, que é morto,   conservo à sua memória o mesmo amor e gratidão que tinha quando ele era vivo. É dele aquele retrato que temos em nossa sala de visitas. E o meu verdadeiro pai ? Este, nunca me esqueceu, mas, sendo naquele tempo muito pobre, nunca quis intervir na nossa vida para não perturbar a minha educação a qual ele não podia prover do mesmo modo que o meu protetor. Só depois da morte dele, ocorrida em 28-Jun-1902, foi que meu pai procurou aproximar-se de mim, dando-se o nosso primeiro encontro em 1904. Para completar os dados biográficos de minha mãe só falta

dizer que ela nasceu em 15-Jul-1854 e foi filha legítima de João Francisco de Souza e Josepha Maria de Mello (este sobrenome de Mello ela tomou depois, em virtude do seu segundo casamento). Do primeiro consórcio de minha avó só sobreviveram minha mãe e um irmão mais moço cinco anos, chamado Joaquim Francisco de Souza Andrade que morreu, segundo soubemos, no ano passado, no Rio de Janeiro, como Major reformado do exército. Do segundo consórcio minha avó teve 2 filhas das quais uma chamada Ricardina morreu há muito tempo e a outra, Adelaide Correia Guimarães é viúva e mora no interior do Estado da Bahia.
Quanto a mim, nasci em 6-Set-1874, na cidade de Estância(SE). Daí saí para Penedo com a idade de 4 anos. Entrei com 7 anos no Colégio São João, do Prof. Manuel de Mello Jácome Calheiros e saí com 13 anos, tendo feito naquele estabelecimento o curso primário e o secundário (este incompleto porque só constava de português, francês, inglês e latim). Meu pai (José Vieira) que era negociante e não compreendia outra carreira na vida que não fôsse a de comerciar, não consentiu nem que eu fôsse a Maceió fazer os meus exames de preparatórios por achá-los desnecessários, visto que não me ia formar. Ao sair do colégio foi logo me colocando como caixeiro praticante na casa comercial de Barreiros & Freire. Levei aí 2 anos, 1888 e 1889, durante os quais revelei-me uma completa negação para a carreira. Nesse tempo,
meu protetor, tendo tido grandes prejuizos no comércio, foi convidado por um amigo, Tizino Barreiros, a dar um passeio com ele na Europa com o intuito de apresentá-lo a um amigo seu, rico negociante alemão e residente em Hamburgo, que estava precisando de um sócio para estabelecer uma fábrica de cortumes a vapor aqui no Brasil. Meu pai aceitou o convite e partiu com o amigo para a Europa, no princípio do ano de 1889, passou em Paris onde assistiu, a 14 de Julho, a abertura da Exposição Universal (feita para festejar o centenário da tomada da Bastilha – 14-Jul-1789) alí realizada quando foi construida a torre Eiffel. Daí passou-se para Hamburgo onde foi apresentado pelo Tizino Barreiros ao tal negociante que se chamava Wilhelm Mundt. Este fechou o negócio com meu pai, o qual voltou então ao Brasil onde chegou em Setembro ou Outubro, desembarcando em Penedo no mesmo dia em que o Conde d’Eu, o qual andava visitando o norte do País com o intuito de contrabalançar com a sua presença a ativa propaganda republicana que se andava fazendo, o que não impediu que em 15-Nov. do mesmo ano, fosse proclamada a República (tinha eu 15 anos). Meu pai começou a montagem da fábrica e em começo de 1890 chegou um mestre curtidor suiço, Etienne Furrer, para dirigir os trabalhos técnicos da fábrica. Este homem falava somente o alemão e o francês e como ninguém falava estas línguas em Penedo, meu pai tirou-me da casa de Barreiros & Freire e colocou-me como intérprete e ao mesmo tempo como aprendiz de mestre curtidor na fábrica, porque o contrato feito com o suiço era por um ano e meio com a obrigação para ele de ensinar a um nacional, que deveria ficar como seu sucessor. Trabalhei, pois, com este homem, nos serviços pesados e fedorentos da profissão de curtidor, do que o que mais aproveitei foi a prática de falar o francês. Quando o curtidor se retirou para sua terra em meados de 1891, eu pouca coisa tive que fazer como mestre curtidor porque outro rapaz tinha aprendido igualmente a arte e tomava conta de tudo. Daí a seis meses o Sr. Mundt lembrou-se de montar uma seção de fabricação de peles e marroquins, pois que até então só se fabricava sola grossa atanada e para isso mandou-nos um jovem profissional alemão chamado Richard Gentsch, seu protegido, o qual aprendera numa escola profissional em Freiberg (Saxonia). O Sr. Furrer quando saira tinha me deixado um guia de conversação alemão-português que ele comprara para aprender a nossa língua. Na expectativa de ter de me haver com um alemão que só sabia a sua língua, eu puz-me a estudar diligentemente o alemão pelo tal guia e quando o Richard Gentsch chegou em abril de 1892, eu consegui me entender com ele. Como fomos morar juntos na mesma casa e éramos quase da mesma idade, eu com 18 anos e ele com 21, fizemos boa camaradagem, sendo, por assim dizer, inseparáveis tanto n trabalho como nas brincadeiras de rapazes. O resultado foi que dentro de 2 meses eu estava falando corretamente o alemão e lhe servia de intérprete. Isso prejudicou-o no estudo do português, de modo que quando daí a um ano ele teve que seguir para a Europa por haver terminado o seu contrato, mal papagueava uma meia dúzia de palavras em português.”
OS DOIS ALEMÃES

Algum tempo depois, já o Jucundino falava muito bem o alemão, vieram dois engenheiros da Alemanha, para instalar uma máquina na fábrica. Depois de tentar um dia inteiro, sem sucesso algum, fazer funcionar a máquina, estavam perplexos, sem saber o que fazer. Naquele momento o Sr. José Vieira, o pai do Jucundino, chamou um experiente mecânico da fábrica, o Bulhões, para dar uma olhada na máquina. O Bulhões deu uma rápida olhadela na máquina que nunca havia visto e disse :
– É claro que ela não pode funcionar, está com os mancais em posição direta, é só inverter !
Passando da palavra à ação, inverteu os mancais e mandou ligar a máquina. Ligaram e ela funcionou.
O Jucundino estava chegando naquele exato momento e presenciou tudo. Um dos engenheiros alemães, com raiva, disse para o outro, falando alemão :
– Esse macaquito metido a sabido, quer dar lição na gente…
Sem perder tempo, o Jucundino disse também em alemão :
– Pois é, ele é macaquito mas conseguiu movimentar a máquina e vocês não !
Nem é preciso dizer que os engenheiros tomaram o maior susto ao ouvir um dos pretensos operários falar alemão.
(Macaquito era naquela época o apelido dos Brasileiros na Europa, pois eram tidos como consumados e perigosos imitadores da tecnologia do primeiro mundo).

O BISAVÔ ORESTES E LAMPIÃO

O vovô nos contou o que ocorreu com o bisavô Orestes. Ele era delegado de Divina Pastora(SE) (Se não me engano), quando  soube que Lampião (o famoso cangaceiro) e uns 400 homens a cavalo se dirigiam para a cidade. Quando a notícia se espalhou a população em peso abandonou a cidade e só ficou ele na Delegacia. Quando a tropa de Lampião parou, numa nuvem de poeira, com 400 homens armados, a cavalo, só havia um homem de pé, em frente à Delegacia, o Delegado Orestes.
– Onde está o povo da cidade ? Lampião perguntou.
– Foram embora.
– E o Senhor quem é ?
– O Delegado, mas, não fica bem dois homens conversando no meio da rua. Vamos entrar e conversar lá dentro !
Lampião deve ter coçado a barbicha rala e ajeitado os óculos mas, acabou descendo do cavalo e acompanhou o Delegado para dentro da Delegacia.
Lá dentro conversaram por quase uma hora. Lampião disse ao bisavô Orestes que ele na verdade não era o monstro que retratavam nos jornais. Disse que jamais jogara criancinhas para cima para apará-las na ponta do facão. Disse que agora não tinha mais retorno; era procurado e caçado pelas polícias de 4 Estados. O jeito era lutar até o fim. Disse que havia gostado muito da coragem do bisavô Orestes e que na cidade dele, nem uma vidraça seria quebrada e nem uma galinha sequer seria roubada. Apertou a mão do bisavô Orestes e foi embora com seus 400 homens.

REMINISCÊNCIAS - Fatos históricos diversos

05-Mar-1916      – A família de vovô Jucundino mudou-se de Vila Nova para Penedo(AL);
13-Abr-1916      – Mudaram-se para Aracaju(SE);
20-Mar-1916      – Jucundino de Souza Andrade foi nomeado catedrático de alemão do Ateneu Sergipense;
1919 a 1922      – Jucundino de Souza Andrade foi nomeado Diretor do Ateneu Sergipense, onde ensinou sucessivamente, Alemão, Inglês, Francês e História Geral;
8-Jan-1920        – Oscar Mazoni Andrade, um dos filhos, matriculou-se no curso de Odontologia na Faculdade de Medicina da Bahia.
Out-1920            – Albertina Mazoni Andrade começou a ensinar desenho na Escola de Artífices.
19-Dez-1920      – Mamãe (Lydia Mazoni Andrade) recebeu o diploma de Professora;
19-Jan-1922      – Alberto Mazoni Andrade matriculou-se na Escola de Engenharia de Ouro Preto (MG);
27-Out-1927      – Lucília Mazoni Andrade foi nomeada 2a. Escriturária da Secretaria da Assembléia do Estado de Sergipe;
16-Jun-1928      – Alberto Mazoni Andrade colou o gráu de Engenheiro Civil e de Minas.

CARÁTER DE JUCUNDINO DE SOUZA ANDRADE - Meu avô materno

Quando o Sr. José Vieira (protetor do vovô, que o criou) morreu, um amigo seu que lhe devia vultosa quantia (extra contábil) sugeriu a vovô que ficasse com o crédito, em vista da intenção não concretizada do falecido (por não ter tido tempo de fazer um testamento). Vovô não aceitou por não ser um procedimento legal. Ele preferia ser prejudicado a fazer algo fora da lei.
Depois da 2a. guerra mundial andaram vendendo jeeps (o veículo) pela metade do preço e ofereceram um a vovô. Ele não aceitou porque percebeu que a coisa não era 100% legal, era uma manobra política favorecendo alguns.
Quando nos mudamos para Belo Horizonte ofereceram um telefone a vovô. Ele teria de mentir dizendo que o telefone já estava na casa dele há um certo tempo, para que a companhia o reconhecesse como o assinante oficial. Embora, na época, fosse comum as pessoas usarem este artifício, ele não aceitou, embora lhe fizesse muita falta um telefone.
Embora não houvesse tido oportunidade de concluir seus estudos escolares como desejava, sempre foi um leitor insaciável e um extraordinário autodidata. Em 14 de Março de 1939 foi nomeado para compor o Conselho Técnico de Economia e Finanças de Sergipe, pelo Dr. Eronides Ferreira de Carvalho, Interventor Federal.

O CASO DO CIRCO DESTRUÍDO

Vovô Jucundino sempre gostou muito de circos e quando éramos pequenos, sempre nos levava a ver os espetáculos. Ele nos contou que, quando era jovem, foi uma vez a um circo que havia sido montado numa grande área plana e isolada, na periferia da cidade. Quando o espetáculo começou, tratava-se de uma peça teatral cômica, o vovô logo sentiu-se bastante aborrecido com o assunto. Tratava-se de uma representação do Jardim do Éden, bastante vulgar e de caráter sacrílego. Ele imediatamente levantou-se e saiu do circo. Quando havia se distanciado uns 100 metros da área, ouviu um forte ribombar de trovões. Caia uma violenta tromba d’água na área onde estava o circo e foi tão forte que arrasou o mesmo, tendo derrubado os mastros e a lona. Como não chovia na área onde vovô estava, ele teve, depois, a curiosidade de circular em volta da área molhada pela chuva e surpreendeu-se ao notar que somente havia caído água sobre o circo e num círculo de mais ou menos 100 metros em volta do mesmo. O vovô ainda relatou que nunca mais aquele circo apareceu na cidade; ele acha que a empresa faliu. Penso que a saída do vovô foi equivalente a “bater o pó dos sapatos” (Mateus 10:14).

A FILIAÇÃO DE VOVÔ

O pai de Vovô Jucundino, Orestes de Souza Andrade, ajudou vovô, dando-lhe emprego e reconhecendo-o legalmente como filho.

NOTAS DE MARIA MAZONI DE ANDRADE

Documento bastante antigo que localizei.
No dia 20 de Setembro de 1885, às 3 horas da tarde de um domingo, morreu mamãe, Genoveva Angélica de Lima Mazoni, com 38 anos de idade, 4 meses e 5 dias. Enterrou-se no dia seguinte às 8 horas da manhã. Era casada ha 18 anos, 9 meses e 19 dias.
Foi no dia 29 de Julho de 1885, com 15 anos, 2 meses e 19 dias. *
Nasci no dia 18 de Maio de 1870, na cidade de Pão de Açucar(AL).
Faleceu Laurindo a 25 de Agosto de 1886 em Penedo(AL).(desconheço a pessoa)
Morreu meu padrinho Felinto Elizio de Lemos Gonzaga a 13 de Julho de 1887.
No dia 20 de Agosto de 1891 morreu minha irmã Serafina com 20 anos e 14 dias de idade. No dia 29 do mesmo mês e ano morreu Bobó com 74 anos incompletos.
Fui nomeada professora pública interina em Novembro de 1891, em Piranhas(AL) e entrei em exercício no dia 22 do mesmo mês.
Mudamo-nos para Penedo(AL) a 6 de Junho de 1892.
No dia 16 de Julho de 1892, num sábado, morreu papai, Joaquim Antonio do Nascimento Mazoni, às 2 horas da tarde. Tinha a idade de 56 anos, 2 meses e 11 dias.
Terto (Tertuliano) formou-se em farmácia, pela Faculdade de Medicina da Bahia, no dia 6 de Maio de 1902.
Lydia, com 12 anos e 10 meses em Maio de 1913. *
Lucília, com 13 anos e 4 meses, no dia 6 de Julho de 1918. *
Albertina, no dia 30 de Dezembro de 1918, com 14 anos, 10 meses e 11 dias. *
Mudamo-nos para Vila Nova, no dia 4 de Outubro de 1909.
Terto mudou-se para São Paulo, no dia 27 de Dezembro de 1910.
Mudamo-nos para Aracaju(SE) no dia 13 de Abril de 1916.
Fiz minha profissão de fé em Jesus, no dia 7 de Setembro de 1920 e no dia 16 do mesmo, batizei-me.
No dia 22 de Maio de 1924, vendemos nossa casa e compramos outra na mesma rua de São Cristóvão em Aracaju.
* (Suponho que os eventos não mencionados, marcados com asterisco, foram as datas iniciais de menstruação.)

MAMÃE

Lydia Andrade Silveira, minha mãe, era uma pessoa de bondade e sensibilidade notáveis. Sempre carinhosa e compreensiva, todavia, sabia ser enérgica quando necessário e nunca posso esquecer de uma palmatória que havia lá em casa e que, vez por outra era utilizada. De uma biografia muito suscinta anotei que ela com 8 anos de idade mudou-se de Penedo para Vila Nova (atual Neópolis), ambas, cidades do Estado de Alagoas. Sua primeira escola tinha somente uma sala onde se reuniam os alunos de todas as idades e onde ela aprendeu a ler e a fazer as 4 operações. Um dia a professora corrigiu uma conta feita pela mamãe e escreveu “SERTO” em vez de “CERTO”. O pai dela, (vovô), ficou muito zangado e disse :
– Mas que professora é esta que escreve certo com “s” ? Você não vai mais para a escola !
Ele já estava muito preocupado com o trabalho que fazia, como caixa e guarda-livros (contador) de uma fábrica, pois o trabalho lhe tomava tanto tempo que mal parava em casa e os filhos pequenos já não o reconheciam mais, por isso, o caso da professora foi a gota d’água  e ele resolveu mudar de emprego e também, circunstancialmente, de cidade. Durante algum tempo ficaram estudando em casa mesmo, e o professor era ele. Em 13 de Abril de 1916 a família novamente  se mudou, desta vez para Aracaju, Sergipe, ocasião em que o seu pai foi nomeado professor no Ateneu Sergipense, tinha ela 15 anos. Ela recorda o seu batismo na Igreja Batista. O batismo foi feito no rio Tramandaí, à noite, com iluminação de tochas, ficando o acontecimento gravado na sua mente por toda a vida. Ela batizou-se juntamente com seu irmão Oscar. Ela conta que no próximo carnaval ela foi assistir uma batalha de confetes e ao voltar para casa, foi chamada pela avó que estava doente, a qual disse :
– Minha filha, você é crente e vai assistir uma batalha de confetes ?
Aquilo tocou profundamente no coração da mamãe a qual se sentiu muito deprimida, tendo tomado a decisão de jamais voltar a participar de qualquer forma de carnaval. Não houve, infelizmente, continuidade desta narrativa.

REGISTRO DO TIO OCTÁVIO MAZONI ANDRADE

Vovô Jucundino, esquecendo o combinado, registrou o 8o filho como Emílio. Chegando em casa a vovó Maria não concordou, alegando os motivos :
1) Já haviam combinado ser Octávio.
2) Octávio era bom pois a data do nascimento era o dia de Santo Octávio.
3) A letra “O” iria completar o “LAO”, ou seja o 2o conjunto de filhos, que era :
1o grupo : Lidia            2o grupo : Lucília
Albertina                Alberto
Oscar                Octávio (ou Emílio ?)
4) Octávio seria o “oitavo”filho.
Depois de tantas razões, o vovô deu meia volta e foi ao Cartório alterar o registro do
tio Octávio (comenta-se que a alteração ficou bem cara).

O PRIMEIRO HIDRO-AVIÃO

Mamãe viu o 1o hidro-avião no seu voo inaugural. Foi pilotado por Gago Coutinho e pousou na enseada do Rio Cotinguiba em frente a Aracaju. O co-piloto foi Hermógenes.

O PRIMEIRO POUSO DO ZEPPELIM

Foi presenciado por papai. Eu, quando menino, muitas vezes vi o zeppelim passar sobre Aracaju. Era enorme, dava a impressão de que tinha quase 100 metros de ponta a ponta.

REGISTRO DO NASCIMENTO DE HELENA E DULCE

Minhas irmãs, foram registradas num cartório que realmente não fazia os registros, somente cobrava e dava as certidões. Mais tarde, quando se descobriu que o Tabelião era desonesto e que nada fora registrado, o vovô Jucundino resolveu, já Helena com 11 e a Dulce com 8 anos, refazer, dessa vez para valer, o registro das duas. Ao serem consultadas as certidões, verificou-se que constava “Helena Silveira” e “Dulce”, sem sequer o sobrenome e então, como eu estava já registrado como Humberto de Andrade Silveira, o vovô as registrou como Helena de Andrade Silveira e Dulce de Andrade Silveira, em Aracaju(SE), constando como nascidas em João Pessoa(PB).

PARENTES INESPERADOS

Mamãe relata que o mais cotado candidato a Governador do Estado da Bahia, era nosso parente. Era honestíssimo, era crente e era muito querido da população. Infelizmente faleceu num acidente de helicóptero. Infortunadamente não temos nenhuma data a mencionar.
**********
Certa noite duas moças desembarcaram em Aracaju; iam para Salvador mas não podiam prosseguir viagem porque um trem havia descarrilado no percurso. Um carregador, na estação, notando a insegurança das moças, perguntou se elas eram protestantes e elas disseram que sim. O carregador, sem hesitar, trouxe-as para a casa do vovô Jucundino, o “hotel dos crentes”. Elas vinham de Recife e eram da ETC (desconheço a sigla mas sei que é entidade religiosa). Uma delas se chamava Zulmira Andrade e ao conversarem, vovô descobriu que ela era sua prima.
Anos depois mamãe (Lydia Andrade Silveira) a encontrou, por acaso, na Igreja Batista de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, onde ficou conhecendo outras duas parentas, Eulina Andrade (muito bonita) e Abigail Andrade (sósia da tia Albertina). A Zulmira tem uma irmã médica, atualmente frequentando a Igreja Batista de Copacabana (anotação feita em 6-fev-1993).

REMINISCÊNCIAS - FATOS HISTÓRICOS DIVERSOS

Abr-1936      – Octávio Mazoni Andrade deixou os estudos na Escola de Eletrotécnica em
Itajubá(MG) e em Junho do mesmo ano fez concurso para o Banco do                 Brasil;
Jun-1936      – Octávio Mazoni Andrade foi aprovado e ingressou no Banco do Brasil S/A;
1945         – Helena de Andrade Silveira cursa o 1o ano na Escola de Medicina do Recife;
3-Mai-1945    – A família do tio Octávio muda-se para Uruguaiana (RS) onde ele assume o
cargo de Chefe de Serviço da Fiscalização Bancária no Banco do                 Brasil;
1946        – Alberto Mazoni Andrade visita Uruguai, Argentina e Chile;
1946 – 1950       –  Helena continua do 2o ao 6o ano na Escola de Medicina de Belo Horizonte;
1948         –  Dulce de Andrade Silveira inicia o curso de Química na Faculdade de                     Filosofia de Belo Horizonte;
1948        – Helena de Andrade Silveira trabalhou como estagiária do Pronto Socorro
Policial de Belo Horizonte e a seguir foi interna da Clínica Médica
de Adultos da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte;
Dez-1949    – Humberto de Andrade Silveira entra no CPOR de Belo Horizonte;
1950        – Helena visita o Uruguai, a Argentina e por último o nordeste do Brasil;
Jun-1950     – Dulce faz concurso e é nomeada Oficial Escrevente do Tribunal de Justiça de
Belo Horizonte;
17-Fev-1952    – Octávio Mazoni Andrade é nomeado Gerente do Banco em Alegrete(RS);
1952        – Alberto Mazoni Andrade visita os Estados Unidos;
1952        – Octávio e Altair visitam Uruguai, Argentina e Chile;
18-Set-1954    – Helena de Andrade Silveira começou a trabalhar no Departamento Estadual
da Criança – Seção de Higiene Infantil, como médica;
3-Jan-1955    – Dulce de Andrade Silveira começa a trabalhar no Instituto de Pesquisas
Radioativas – Seção de Emulsões de Pesquisas Nucleares, em Belo
Horizonte (MG);

VOVÔ JUCUNDINO

Com a perda de meu pai passei a ter o meu avô materno, Jucundino de Souza Andrade como um segundo pai. Minhas duas irmãs mais velhas, Helena e Dulce, cresceram junto comigo e as mais antigas lembranças que tenho foram da cidade de Aracaju (SE), onde morávamos na Rua São Cristóvão, 424. Meu avô era um tremendo auto-didata e, desde cedo acostumei-me com a idéia de que ele sabia tudo. Era um poliglota que falava 7 línguas e era para mim muito natural vê-lo falando alemão, francês, inglês, etc com seus amigos. Lembro-me de que eu tinha pavor de ir aos banhos de mar quando um dos convidados era o Sr. Dubois, um
francês, pois a diversão dele era levar-me para o fundo e “ensinar-me a nadar”.

INFLUÊNCIAS EXTERNAS

Na minha infância eu tinha 3 lideranças: a mamãe, a vovó Maria e a tia Ana Rosa (irmã da vovó que morava conosco). Elas me impediam de ir para a rua jogar bola com a molecada e eu ficava bastante chateado, sempre com vontade de participar mas hoje eu vejo que elas tinham razão. Lembro-me de um deles, um tal de Barreto, que, já naquela época foi um hippie muito precoce.  Tudo que era proibido ele fazia com o maior excesso. Coitado, acabou morrendo aos 16 anos com cirrose hepática, de tanto beber. Um outro, tinha o apelido de Perigo, vulgo Peri e, nem cabe aqui entrar nos detalhes.

FORMAÇÃO MUSICAL

Cresci num ambiente musical clássico pois o vovô tinha uma vitrola e uma respeitável pilha de discos, principalmente de óperas. Cheguei a memorizar as melodias de grandes trechos da Traviata, Rigoleto, Barbeiro de Sevilha e Aida. Os autores preferidos do vovô eram Verdi e Rossini. Ele tinha grande aversão pela música americana (fox-trot e jazz-band) e tinha verdadeiro ódio pelos cantores de samba-canção que na época, tinham o desastroso hábito de retardar o rítmo das músicas.

ACIDENTES ESCOLARES

Das minhas primeiras atividades escolares lembro-me do Jardim da Infância e das professoras que me pareciam enormes. Lembro-me das brincadeiras de roda, das salas de aula e dos balanços para quatro. Um dia os meninos acharam um filhote de passarinho, o qual passou de mão em mão. Por infelicidade quando passou pela minha mão tentou fugir e eu o apertei com tanta força que o coitado morreu. Fui muito criticado, chamaram-me de malvado e outros adjetivos apropriados. Fiquei muito aborrecido mas sabia que não tinha feito aquilo de propósito. Interessante é que não me lembro de nada que era ensinado no Jardim da Infância. Mais tarde frequentei uma escola particular, perto de nossa casa,ao lado da Igreja Presbiteriana.
Um dia, brincando, dei um soco na barriga de um colega e ele chorou muito. Novamente fui hostilizado e repreendido por uma professora. Vejo agora como as adversidades ficam fundamente gravadas em nossas mentes. Talvez seja uma defesa psíquica formadora de hábitos de personalidade. Na minha vida, depois daqueles “acidentes” tenho sempre tido muito cuidado em não prejudicar os outros.

O ACIDENTE DA TIA ANA ROSA

A nossa casa era muito frequentada por pastores batistas, missionários, viajantes da igreja, membros, etc e nessa ocasião estava um casal nos visitando, melhor dizendo, estavam hospedados lá em casa e, como o visitante tinha me dado talvez demasiada atenção, eu sendo ainda um menino, queria por força acompanhá-lo até seu quarto onde queria, provavelmente descançar um pouco, depois do almoço. Como eu insistisse, a tia Ana Rosa me segurou por um braço e, no vai e vem que se seguiu, ela acabou caindo e deslocou a perna de maneira séria. Coitada, como era muito sistemática, nunca quiz se submeter a um tratamento médico para recolocar o osso no lugar, de modo que, até sua morte, muitos anos depois, usou uma muleta.
Fiquei muito sentido com o ocorrido mas, sentia-me como um culpado involuntário e o problema nunca me trouxe dramas de consciência.

PROBLEMAS SÉRIOS

Mais adiante passei para o Colégio Tobias Barreto onde o Prof. Zezinho, o Diretor, tinha o hábito tradicional de bater com uma célebre vareta, nos alunos rebeldes.
Lembro-me que não gostava do ambiente do colégio pois havia muita conversa sobre sexo, piadas sujas, homossexualismo, etc, que se chocavam com minha educação religiosa. Acabei me abrindo com meu avô, contando-lhe minhas observações. Êle ficou furioso e fez uma queixa ao Prof. Zezinho. Este chamou-me e exigiu fatos e nomes, que fui obrigado a dar. O Prof. Zezinho reuniu o grupo e surrou todos eles.
Daí em diante passei a ser tremendamente hostilizado e minha vida virou um inferno mas, passou-se o tempo e eu aprendi a me defender. Tornei-me um brigão e, à menor provocação, passava logo aos socos e pontapés. Descobri logo alguns truques e tornei-me muito hábil em jogar rapidamente os meus adversários no chão. Se eu conseguia pegar na mão ou braço de alguém, era giro e queda. Um dia briguei por quase uma hora com o colega chamado Walmir e depois, cansados da briga, começamos a conversar e nos tornamos bons amigos. Realmente eu tinha três inimigos que perturbavam bastante mas, também tive muitos bons amigos na escola. Espero que meus filhos e netos não sigam este caminho.

O ATENEU SERGIPENSE

Mudei-me para o Ateneu Sergipense onde tive muito melhor aproveitamento escolar e fiz bons amigos. Passei a praticar remo, box, ciclismo e natação. Um dia quase morri ao pular de uma ponte velha; passei raspando por um velho mourão submerso. Foi por um triz.

A PRAIA FORMOSA

Em Aracaju existe até hoje uma praia muito procurada, a Praia Formosa. Todas as férias a mamãe alugava uma casinha de palha para veraneio, local onde passamos momentos inesquecíveis. Lembro-me das noites estreladas quando ficávamos conversando na varanda com os vizinhos e amigos, contando e ouvindo histórias. Lembro-me das pescarias, passeios nas praias e no “mangue” (pantanal) pegando caranguejos e aratús (um tipo de caranguejo vermelho que corre com grande velocidade). Um dia, andando numa praia deserta vi à minha frente uma árvore vermelha. Chegando mais perto tomei um susto. A árvore estava completamente cheia de aratús que, com a minha chegada, despencaram dos galhos e saíram correndo em todas as direções. Foi um espetáculo inesquecível. Corri atrás deles mas eles corriam mais do que eu e logo sumiram, inclusive entrando em buracos.

BARATAS

Anos mais tarde eu teria ocasião de ver em Ituiutaba (MG) um outro fato notável do reino animal. Numa noite de luar, numa pensão onde eu estava hospedado, fui até o quintal e vi uma casinhola que era um sanitário fora de uso, de fossa negra (tipo de fossa que é somente um buraco fundo no chão), completamente recoberto de baratas. Do alicerce ao teto não se via um centímetro de parede, eram somente milhões de baratas. Saí depressa do local, antes que as baratas resolvessem “despencar” como os aratus.

CIDADE DE RITA CASSETE

Numa de nossas férias nos mudamos para a cidade de Rita Cassete, hoje chamada Tobias Barreto onde, juntamente com o tio Octávio e a tia Altair, alugamos uma casa de veraneio.
Todas as manhãs íamos ao Banho Público, numa nascente d’água, numa baixada bem oculta por altas sebes. Ao chegar no “banco de espera” gritávamos :
– Homem ou mulher ?
Logo vinha a resposta, que podia ser : “homem”, “mulher” ou “família”. Quando eram mulheres, eu, o tio Octávio e seu amigo Euvaldo, ficávamos esperando, enquanto mamãe, Helena, Dulce e tia Altair desciam ao banho. Era isso ou vice-versa.

BELO HORIZONTE

Com 16 anos mudei-me para Belo Horizonte, acompanhando minha família. Lá, com a ajuda do tio Alberto (Alberto Mazoni Andrade), que era engenheiro, construímos uma bela casa na Rua São Manuel, 74. Levei algum tempo para adaptar-me aos novos costumes, maneirismos, amigos e parentes, etc.

ESTUDO, EXÉRCITO, EMPREGO

Meu primeiro emprego em Belo Horizonte foi numa fábrica de móveis, como desenhista. Trabalhei somente um mês e tendo a fábrica falido, fiquei sem receber meu tão esperado salário de 500 cruzeiros. Em Belo Horizonte reiniciei os meus estudos no Colégio Batista Mineiro onde me formei no Curso Científico, atual 2o Gráu. Também servi no Exército, fazendo o CPOR (Curso de Preparação de Oficiais da Reserva). Através de um amigo da família, Simão Aisengart, consegui um emprego na firma Panair do Brasil S.A. onde trabalhei por 5 anos até abril de 1955 quando pedi demissão e passei para o Banco do Brasil S.A. onde tomei posse em 20 de Abril  de 1955 na Agência de Ituiutaba (MG). No Banco do Brasil exerci sucessivamente as funções de Escriturário-Auxiliar, Escriturário A, B, etc, até letra H. Houve depois uma reestruturação quando passei para Nível Superior S-4. Durante minha carreira no Banco exerci as comissões de Caixa, Boca-de-Caixa, Investigador de Cadastro (31-Jan-1964 a 13-Mai-1971), Ajudante de Serviço (14-Mai-1971 a 1-Ago-1976), Chefe de Serviço interino e, após a época em que saí do Banco em licença de 1 ano e meio, (para trabalhar como Chefe do Departamento Financeiro da Associação Brasileira da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) exerci ainda as funções de Caixa Executivo e Auxiliar de Supervisão na Direção Geral (CESEC – S. Paulo).

PERÍODOS DE TRABALHO

06-Ago-1951 a 14-Abr-1955 – Trabalhei na Panair do Brasil S/A
20-Abr-1955 a 20-Out-1980 – Trabalhei no Banco do Brasil S/A
02-Ago-1976 a 20-Nov-1977 – Trabalhei na Associação Brasileira da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Em licença não remunerada do Banco do Brasil).

AMOR À PRIMEIRA VISTA

Em Belo Horizonte conheci a Glória e, na primeira vez que a vi, algo me disse : “Essa será sua esposa”. A propósito, a tia Ana Rosa, que morava conosco, já tinha visto a Glória antes de mim e tinha pensado como seria bom se eu a conhecesse. Curioso, ela nunca havia dado nenhuma sugestão com respeito a moças para namorar e, a primeira que deu, deu tão certo que em 8 de Novembro de 1952 nos casamos no cartório Recenvindo Gontijo e a cerimônia religiosa foi feita pelo Pastor Casimiro Gomes de Oliveira na 1a. Igreja Batista de Belo Horizonte, na Praça Raul Soares.

NOSSA FAMÍLIA

Ficamos morando em Belo Horizonte na casa da mamãe, até quando tivemos que nos mudar para Ituiutaba por causa do meu novo emprego no Banco do Brasil. Mais tarde nos mudamos para São Paulo onde estamos até hoje. Os nossos filhos foram : Marisa, Marcelo, Maurício, Márcio e Marcos.

A FAMÍLIA DA DULCE

Em 3 de Novembro de 1962 a Dulce, minha irmã, se casou em Minneapolis, Minesota, USA, com Wing-Cheng Raymond Chan. Tiveram uma filha, Celina. A Dulce faleceu muito cedo, em 4 de Fevereiro de 1974.

A FAMÍLIA DA HELENA

A Helena, minha irmã mais velha, se casou em 30 de Novembro de 1963 com Felisberto Vieira dos Santos. Tiveram duas filhas, Maria Lídia e Ana Márcia. Atualmente o casal está divorciado.

A FAMÍLIA DA GLÓRIA

Antes de continuar a narrativa de nossa própria família, teremos uma visão da família de minha esposa, Maria da Glória Leite Silveira, a partir dos primórdios. Temos um livro em casa, “A Família Vidal Leite Ribeiro” que evidentemente inclui os antepassados da família dela desde o ano 419 da era Cristã, a partir de Theodoredo, 4o Rei Visigodo da Espanha. Como a família do pai dela, Sr. Antonio Rosa Leite é originária de Andrelândia(MG), daremos um grande salto no tempo anotando algo sobre esta cidade.

ANOTAÇÕES EM ANDRELÂNDIA
Há poucos anos atrás, tendo feito juntamente com o Amir Leite uma viagem a Andrelândia, cidade dos antepassados paternos da Glória, tive a oportunidade de anotar os seguintes dados no cartório local: (ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Andrelândia)
1749 – André da Silveira e sua mulher, D. Maria do Livramento e ainda Manuel Caetano da Costa construíram uma capela dedicada a Nossa Senhora do Porto do Turvo, na localidade denominada Turvo Grande e Pequeno, pertencente à Freguesia de Airuoca. (Nota: O Barão de Airuoca foi, provavelmente, antepassado de minha mulher, Maria da Glória Leite Silveira).
1833 – O arraial que ali se desenvolveu, passou nesta data à condição de freguesia, por determinação de Antonio Belfort Ribeiro de Arantes, mais tarde Barão de Arantes (ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Andrelândia#Evolução_administrativa). Antonio Belfort Ribeiro de Arantes foi membro da tradicional família Arantes, com mais de 47.000 familiares, ligada ao irmão Osiris Grobel Cabral e também foi o bisavô de Ivone Braga de Castro, esposa do tio Armênio Leite (irmão do vovô Antonio Rosa Leite) e pais do primo Eustáuqio de Castro Leite (Eustaquinho).
1864 – Passou a denominar-se Vila Bela do Turvo.
21-Out-1866 – A denominção acima foi oficialmente estabelecida.
1868 – Passou à condição de cidade com a denominação de Cidade de Turvo.
19-Set-1830 – Passou a denominar-se ANDRELÂNDIA em homenagem ao pioneiro fundador, André da Silveira.
A VOVÓ MARIANA ROSALINA DA GUIA ROSA E A REVOLUÇÃO

A Maria da Penha, irmã da Glória, contou-nos esta história :
A vovó Mariana teria sido informada de que as tropas revoltosas se aproximavam da cidade (Revolução de 1914 ?). Cuidou de arrebanhar e ocultar muito bem todos os seus filhos mas, não avisou seus irmãos e sobrinhos, de modo que, quando chegaram os soldados, houve uma matança e morreram todos os seus sobrinhos. Pelos registros que temos, somente constam como casados dois irmãos dela, Antonio Luiz da Guia Rosa e Salvina de Paula Rosa, os quais, talvez, tiveram seus filhos mortos na ocasião. A vovó Mariana (avó paterna da Glória), foi depois muito criticada mas, quem sabe, talvez não tivesse tido tempo senão para salvar seus próprios filhos !

BRIGAS POLÍTICAS

José Luiz, um dos filhos de João Evangelista da Guia Rosa, avô materno do Sr. Antonio, participou de um tiroteio entre dois grupos políticos, o grupo Veado e o grupo Caranguejo e, durante a escuridão da madrugada atirou insistentemente num vulto que, com o clarear do dia revelou-se ser uma cadeira e um capote. Conta-se que ele ficou tão envergonhado e desgostoso com a “gafe” que veio a falecer prematuramente.

A INFÂNCIA DA D. IZAURA

A mãe de minha esposa, Izaura Machado Leite, foi, desde pequena, criada pela avó. Com a morte prematura de sua mãe, Dulcelina Maria de Jesus, ainda na porta da igreja, no dia da missa de 7o. dia, o pai, Urciliano Cândido Machado, começou a distribuir os filhos para serem criados por este ou aquele parente, quando foi interrompido por Maria Cândida de Jesus (Tuta), avó da D. Izaura, que disse : – Nada disso, cachorro é que se dá na porta da igreja, eles não são cachorros para serem distribuidos, são meus netos e eu vou criar todos eles. Pelas informações que temos ela deve ter ganho naquele dia 4 crianças para criar : Maria Hipólita com 12 anos, Maria Assunção com 7 anos, Izaura com 6 anos e Antonio com 2 anos. Deve tê-los criado muito bem porque os 4 chegaram à idade adulta e todos eles constituiram família.

O NAMORO DA D. IZAURA E SR. ANTONIO

Na época o Sr. Antonio era um jovem funcionário da Rede Mineira de Viação, trabalhando em Araxá(MG), onde morava a D. Izaura. Tendo notado a presença dela na igreja, seus olhares foram notados pela vovó Tuta que não gostou e apressou as moças no seu regresso para casa. Na semana seguinte, na hora da missa, lá estava novamente o tal rapaz, olhando para a Izaura mas, como ele notasse que havia uma grande barreira, informou-se e foi então falar com o Sr. Severiano Gabriel Teixeira, tio dela e, tão eficaz foi aquela conversa que
um mês e meio depois… já se casavam os dois, naquela mesma capela. O único presente de casamento foi um pijama mas, também, com tanta pressa, não houve tempo dos convidados planejarem as compras…

OUTRO RELATO COMO ANTONIO E ISAURA (PAIS DA GLÓRIA) SE CONHECERAM
Corria o ano de 1930. Mamãe, com 23 anos e papai com 36. Papai, vindo de Andrelândia (MG) para trabalhar nos escritórios da Ferrovia Oeste de Minas. Naquela época a cidade do interior não tinha movimento nos dias de semana à noite, a não ser a reza na Igreja Católica. Pois foi lá que eles se viram. Papai estava sentado uns bancos à frente da mamãe com sua avó. Papai virou-se para trás e viu a mamãe. Naturalmente, achou a moça bonitinha e virou-se para vê-la pela segunda vez, e logo em seguida, pela terceira. A avó de minha mãe (vovó Tuta), velha esperta e desconfiada, disse para minha mãe : 
– Vamos embora, aquele rapaz está olhando muito para trás, e é para você. 
Saíram da igreja. O que a avó Tuta não imaginou foi que o rapaz saiu também e seguiu as duas até em casa. No dia seguinte, procurou saber quem era aquela moça bonita, que morava naquela casa. Em cidade pequena, todos se conhecem e, logo ele ficou sabendo que aquela moça era sobrinha de uma amigo dele. Tudo estava dando certo. Logo noivaram e, em 45 dias se casaram, tempo suficiente para que os papéis corressem no cartório. Mamãe, com a euforia do casamento, não pensou em nada mas, na noite do casamento, ela se preocupou : “Que loucura eu fiz, não conheço meu marido e, se ele for mau, o que fazer agora ? “. Felizmente ele foi um bom marido e eles foram felizes por quase 45 anos. Quando papai morreu, mamãe disse ao pastor de sua igreja : “Eu não quero mais nada na vida, só quero morrer para ir me encontrar com meu marido Antonio.”
O CASO DA MIXIRIQUEIRA

Na quintal da D. Izaura havia muitas árvores frutíferas mas, dentre elas, um pé de mixirica  que nunca havia dado frutos. Alguém ensinou à D. Izaura uma simpatia “infalível”, ela teria que dar uma surra na árvore, mas tinha que ser de noite, com data e hora marcados. No dia certo a D. Izaura surrou a árvore mas, por incrível que pareça, não adiantou nada… Superstição é assim mesmo.

O CASO DO SR. FARÃO

Na época da guerra (2a. guerra mundial) havia racionamento de açúcar e o dono do armazém, Sr. Farão, avisou que venderia somente um pacote de açúcar por mês para cada freguês. Acontece que uma viúva pobre contou à dona Izaura que vivia da venda de flores do quintal, cuidando de 4 filhos menores e que nem podia tomar café porque não tinha açúcar em casa. A D. Izaura, muito penalizada, mandou a dona, em nome dela, buscar um pacote de açúcar no armazém. Quando o Sr. Antonio voltou para casa à noite, disse à D. Izaura que o Sr. Farão tinha se queixado, dizendo que a quota dele era somente um pacote por mês e para fazer o favor de não mandar mais pessôas amigas buscar açúcar. A D. Izaura ficou tão envergonhada que, durante algumas semanas, deixou de tomar café (e açúcar) como uma compensação pelo êrro. Não chegou a completar um mês porque o Sr. Antonio interveio, dizendo que era bobagem ela se castigar.

O GARFO E O CHOURIÇO

Um dia passou na casa um garoto vendendo chouriços e pouco depois de ter saído voltou chorando à procura de um garfo novo que havia, por distração, trocado por um garfo velho, numa das casas percorridas. A D. Izaura, com pena do menino, deu-lhe um garfo novo dizendo que a troca de garfos não tinha sido na casa dela. O menino foi embora todo contente porque dessa forma não iria apanhar quando chegasse em casa.

A HORTA DA DONA IZAURA E AS INJEÇÕES DO SR. ANTONIO

A família da Glória praticava muita caridade. A D. Izaura Machado Leite, mãe da Glória, tinha uma grande horta ao lado da casa, que molhava diariamente com água tirada do poço, com sarilho. Pois bem, grande parte da produção da horta era para a vizinhança pobre. Já o Sr.
Antonio Rosa Leite, pai da Glória, era quem dava, gratuitamente, injeção em toda a vizinhança. Volta e meia, lá ia ele com seu estojo para dar injeções nos enfermos da vizinhança!

UM SAPATEIRO CONSCIENCIOSO

O Sr. Antonio, embora fôsse funcionário público (Rede Mineira de Viação), também trabalhava em casa como sapateiro (um bico) mas, cada vez que tinha necessidade de trabalhar além das 10 da noite, guardava o martelo e dizia :
– Agora é hora dos vizinhos dormir.
Passava então aos serviços de costura, engraxar, etc, que não produziam ruido.

O CASO DA DONA ROSA

Um funcionário da Rede Mineira de Viação, de uma cidade do interior de Minas, sempre escrevia para a Capital e sempre se dirigia à funcionária ROSA LEITE. Ele sempre usava folhas de papel bem limpas, nunca amassadas, porque era para a ROSA LEITE. Um dia ele veio a Belo Horizonte e queria de qualquer jeito falar com ROSA LEITE, queria conhecê-la.  Qual não foi a sua surpresa quando o levaram à mesa de um homenzarrão de 1 metro e oitenta. “E a dona Rosa ?” perguntou meio encabulado. “Dona Rosa ? Aqui não temos nenhuma Rosa, eu sou o ROSA LEITE, meu nome é ANTONIO ROSA LEITE”. Assim ficou esclarecido o equívoco.

NARCISO CONSTRÓI UMA PRANCHETA

José Narciso, irmão da Glória, pretendia ser um engenheiro civil, portanto, precisava de uma boa prancheta para desenho. Como a D. Izaura tinha medo dos raios que caiam sobre um cedro que havia no quintal, foi providenciada a derrubada da árvore e então, o Narciso cortou algumas toras e com grande dificuldade levou-as até uma serraria, onde foram transformadas em tábuas. Com as tábuas ele, sozinho, construiu uma magnífica prancheta que usou por muitos anos, enquanto estudava engenharia. Muito caprichoso, o Narciso certa vez traduziu um livro de Álgebra, do francês para o português. Fez o trabalho  todo escrito a mão, mandando-o depois encadernar.

NEGUITO, UM CACHORRO ESPERTO

Quando eu já namorava a Glória, um dia cheguei na casa dela e bati palmas mas não  havia ninguém em casa, somente o cachorro Neguito abanando o rabo e pedindo para sair.
Abri o portão e soltei o Neguito. Ele saiu correndo e virou a esquina e eu fui atrás dele. Ele entrou numa casa estranha e eu bati palmas. Logo apareceu a Glória que ficou muito admirada de eu a ter encontrado. “Elementar”, expliquei, “o Neguito me trouxe !”

A FAMÍLIA DA MARIA DA PENHA

A Penha, irmã da Glória, casou-se em 10 de Julho de 1954 com Ivan Sebastião Lopes.
O Ivan era funcionário da Mannesmann, uma metalúrgica em Belo Horizonte e, veio a falecer muito cedo, em 11 de Outubro de 1975. O casal teve três filhos : Trindade Izaura, Marivan e Marcílio.

FORMATURA DO NARCISO

Em 1958 o irmão da Glória, o José Narciso Leite, formou-se como Engenheiro Civil
pela Universidade de Minas Gerais.

A FAMÍLIA DO JOSÉ NARCISO

O Narciso, irmão mais velho da Glória, casou-se em 31 de Janeiro de 1959 com Durvalina Queiroga. Inicialmente ele trabalhou na Rede Mineira de Viação e depois na CEMIG – Centrais Elétricas de Minas Gerais. Atualmente possui escritório próprio de engenharia civil, em Varginha (MG) e a Durvalina está dirigindo uma loja de perfumes e cosméticos. O casal teve os filhos : Roberto Márcio (já falecido em acidente), Cláudio Murilo e Regina Paula.

C.P.O.R.

Conclui o curso do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva em 25-Ago-1951, com a menção “Regular”, tendo sido declarado Aspirante a Oficial da Reserva pelo boletim 195.

MORTE DA DULCE

No dia 2 de Fevereiro de 1974 a minha irmã, Dulce de Andrade Silveira Chan, faleceu em sua casa, na cidade de Cheshire, Connecticut, Estados Unidos, tendo adquirido câncer há 8 anos atrás. Num recorte do “Jornal Batista”, entre outras informações, lemos que se batizou na Igreja Batista com 13 anos, em Belo Horizonte completou o curso secundário e entrou na Faculdade de Filosofia, onde fez o curso de Química. Formada pelo Conservatório Mineiro de Música era hábil pianista, organista, cantora e regente de corais (tocava com muita habilidade as músicas de Bach). Trabalhou no Instituto de Pesquisas Radioativas e, tendo obtido uma bolsa do governo de Minas Gerais, viajou em 1959 para os Estados Unidos a fim de realizar estudos especializados em Minneapolis. Em 1961 voltou ao Brasil onde por algum tempo lecionou no Instituto, tendo depois voltado aos Estados Unidos para casar-se com um colega de estudos, o Wing-Cheng Raymond Chan, chinês e também batista. Tiveram uma filha, Celina. No artigo foi mencionado que Dulce conseguiu reunir em sua pessoa a precisão da cientista com a sensibilidade da artista, tanto na música como na poesia. Foi realmente uma pessoa notável a quem muito amamos. Pena que nos deixou tão cedo.

MORTE DO SR. ANTONIO

Na revolução de 1932, o Sr. Antonio Rosa Leite, pai da Glória, já era casado, já o Narciso tinha nascido e a D. Izaura estava grávida esperando a Penha. O telegrama convocando-o para o serviço militar demorou tanto a chegar que, ao recebê-lo, a revolução já havia terminado. Ele deixou de ir e talvez de morrer naquela época pois, segundo conta, muitíssimos mineiros morreram numa emboscada num túnel. Veio a falecer em 11-Nov-1974, de cirrose hepática. A D. Izaura, pouco tempo depois, disse ao Pastor da Igreja Batista local que somente desejava uma coisa na vida – morrer para se encontrar logo com o marido. Veio a falecer 1 ano e pouco depois do marido.

MORTE DA D. IZAURA

Estando a D. Izaura em Varginha(MG) na casa do Narciso, resolveu voltar para Belo Horizonte, provavelmente para estar em casa no Natal que se aproximava. Um chofér da CEMIG, firma na qual trabalhava o Narciso, saiu de Varginha bem cedo, mais ou menos às 6 horas da manhã, levando a D. Izaura, o Narciso e seus dois filhos mais velhos, Roberto Márcio e Cláudio Murilo e um colega do Narciso, numa grande perua C-14. Pouco depois de terem saido da cidade, transitando já na estrada secundária que leva à rodovia Fernão Dias, o carro ficou numa posição em que o sol nascente lhe ficava bem em frente. O Narciso chegou a brincar, dizendo ao motorista para ter cuidado com “aquele farol alto”. Mal havia acabado de falar, o motorista bateu. Havia um caminhão estacionado que não foi visto por causa do ofuscamento causado pelo sol. A trazeira do caminhão praticamente arrancou o teto da perua, arrancando uma calota da cabeça do Roberto Márcio e decapitando a D. Izaura. O Narciso teve seu braço bastante machucado, o Cláudio Murilo machucou o peito e o colega do Narciso teve um olho vazado. Com a ajuda do motorista que nada sofreu, o Narciso retirou os mortos do carro, socorreu os feridos e entrou em coma. Quando voltou a si, 5 dias depois, não se lembrava absolutamente de nada (uma espécie de defesa psíquica). A D. Izaura foi enterrada em Belo Horizonte, para onde foi transportada de avião, no dia 4 de Dezembro de 1975.

NOSSA FAMÍLIA

Continuaremos agora com a nossa família, já tendo resumido os principais fatos históricos das famílias de nossos pais.

FILHOS

Tivemos 5 filhos, os dois mais velhos nascidos em Belo Horizonte (MG) e os outros 3 em São Paulo (SP), para onde me transferi após 4 meses em Ituiutaba. Todos os partos da Glória foram normais e todos os filhos perfeitos, graças a Deus. Todos os filhos receberam o sobrenome Leite Silveira e foram eles :
Marisa    nascida em    5-AGO-1953    em Belo Horizonte MG.
Marcelo nascido em    11-JUL-1954    em Belo Horizonte MG.
Maurício nascido em    5-MAI-1956    em São Paulo SP.
Márcio nascido em    14-SET-1957    em São Paulo SP.
Marcos nascido em    6-MAR-1961    em São Paulo SP.

A Glória nasceu em 6-FEV-1934 em Araxá (MG).

APARECE A TELEVISÃO
Mais ou menos em 1954, eu trabalhava na Panair do Brasil, ouvi a 1a. notícia da existência de um aparelho eletrônico que reproduzia as imagens de objetos e pessoas, transmitindo-as para aparelhos receptores a longa distância. Não acreditei, achei que era uma brincadeira.

Documentos | Humberto & Glória Silveira:

Anotações Biográficas: Humberto e Glória (I)

Anotações Biográficas: Humberto e Glória – PARTE 1

Anotações Biográficas: Humberto e Glória (ll)

Anotações Biográficas: Humberto e Glória – PARTE 2

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