Humberto e Glória | Cartas Lydia & Oseas: 

Mas eu e a minha família servi­remos ao Senhor”

Aracaju, 19 de Janeiro de 1920.

Aracaju, 19 de Janeiro de 1920.
Oseas:
Não recebi seu cartão de 7; recebi uma carta deste dia e outra do dia 9. As duas do dia 15 não recebi. A agente do correio prometeu devolver as minhas cartas logo que recebesse. Eu deixei o meu endereço a uma criada, para entregar a ela.
Você recebeu duas cartas minhas uma de 9, outra de 11 do corrente?
No domingo eu chorei muito porque faziam muitos dias, que não recebia uma carta sua e no domingo, que era o dia em que sempre recebia, não chegou nenhuma lá.
Na segunda-feira quando Sr. Orestes recebeu a carta de papai dizendo que me mandasse na primeira oportunidade, eu fiquei tão alegre que você nem imagina. Sr. Orestes queria que eu deixasse para vir quinta ou terça-feira se tivesse uma pessoa de confiança que viesse para cá, ou senão para ele me trazer; mas eu fiz tudo para que ele me deixasse vir com o padre Justiniano.
Eu tive tanta alegria quando lhe vi na ponte que eu nem sei dizer o que senti.
Eu acho que você passando por aqui as horas costumadas, não deixará nenhuma má impressão.
Eu não sei qual será um endereço melhor, para você me escrever do Recife; vejo que o jeito que tem é você mandar para aqui.
Eu tenho muita coisa para lhe dizer mas não posso agora porque Alberto de vez em quando chega aqui ipara procurar uma coisa e outra e eu tenho que esconder a carta às carreiras. Você desculpe ela estar muito borrada. Já estou pensando que muitos poucos dias passarei com você.
De sua sincera
Lydia.

Aracaju, 30 de março de 1920.

Filipenses 1: 3 e 4.
Recebi hoje ao chegar da escola a sua estimada cartinha de 19 do corrente e confirmo uma minha de 24 ou 25 do corrente, pois não estou bem certa da data. Mamãe também recebeu uma cartinha sua. Eu estou achando que você tem custado muito a receber minhas cartas, pois eu sempre lhe escrevo.
Eu também custei a receber cartas suas agora; recebi duas na segunda feira da semana santa e só hoje, quarta feira da outra semana, é que recebi esta. Estava já sentindo… nem sei mesmo dizer o que; era um coisa que parecia me faltar; hoje quando  li sua cartinha, fiquei tão alegre e ao mesmo tempo tão triste, que chorei. Faz tanto tempo que eu estou longe do meu querido Oseas e fazem somente 2 meses! Como será quando fizerem 9 ou 10 meses?
Gostou da festa da inauguração do seminário?
A Igreja aqui vai sempre muito animada. Quinta feira da semana passada fomos à Praia do Tecido assistir ao culto em casa da Sra. Prazeres e a 7 batismos que houve. Sua tia , Da. Chiquinha, batizou-se neste dia e as ouras pessoas foram um rapaz chamado João Carlos e a esposa, Elvira Cavalcante, recém casados; uma irmã da Elvira, cujo nome não me lembro, Joana Leite filha de um homem preto já velho que batizou-se antes de você ir embora e uma menina de 12 anos chamada Maria Madalena e a noiva do irmão de Jason que se chama Leonida.
Eu fiquei muito alegre ao saber que seu pai não ficou aborrecido com você por minha causa; eu ficaria muito triste, se alguém de sua família ficasse triste com você por minha causa e peço sempre a Deus que nunca tal coisa aconteça.
Mande me contar como foi o culto da Igreja de Macaxeira que você dirigiu.
Não sei se já mandei lhe dizer que a Escola Dominical agora tem 7 classes; a classe de Jovens dividiu-se em duas; uma para meninos e outra para meninas; eu dirijo esta última, Alberto dirige a de meninos e Sr. Montenegro dirige a de moços, e o resto continua do mesmo modo.
Alberto chegou ontem de Penedo, ainda mais alto do que quando foi.
Eu também vivo sempre a olhar para o seu retrato, mas infelizmente isto não faz com que ele se anime e me olhe e me fale…
Esta já está muito cheia de tolices e por isto vou terminar, dizendo-lhe adeus e pedindo que aceite muitas e muitas saudades daquela que é e será até a morte sua sincera
Lydia.

Aracaju, 9 de abril de 1920.

D. Lydia:
Sei que não podemos compreender-nos senão pela palavra escrita, e, servindo-me logo deste meio, dirijo-lhe logo as linhas que ora escrevo.
A respeito de coisas de amores, nunca, pelo menos, falamos um ao outro; há, porém, quem tenha cometido a imprudência de ocupar-se de nosso nome, e que, por certo, vem colocar-nos em dificuldades e encher-nos de preocupações.
Tais preocupações, pelo fato de não haver nada de positivo entre nós, se acentuam dia a dia; evitando grande parte delas, pois, tomo a liberdade de dizer que, por coincidência, não erra quem diz que lhe consagro toda simpatia e amizade e peço, ao mesmo tempo, uma expressão igualmente positiva a respeito de sua atitude.
Terminando, subscrevo-me com o devido respeito e a mais alta consideração
Oseas E. Santo.

Aracaju, 10 de abril de 1920.

Snr. Oseas:
Ciente do conteúdo de sua carta, e vendo a necessidade que tem de uma resposta como m‘a pede, resolvi-me a responder-lhe por escrito, pois não me sinto com coragem para falar-lhe sobre este assunto, que os meus sentimentos para com o senhor, são iguais aos que diz ter por mim.
Terminando subscrevo-me C.r.a.  e A.m.a. grata.
Lydia M. de Andrade.metro, não entrou sequer uma gota em casa. Os vizinhos tiveram grandes prejuízos.

Aracaju, 22 de junho de 1920.

Lydia:
Saudações afetuosas.
Recebi ontem uma carta urgente e reservada, trazendo os seguintes dizeres, que bastam para explicar a maior parte do que desejo dizer:
“Preciso saber se você aceita o lugar de escrevente em uma repartição do Ministério. Pode ser em Alagoas ou talvez em outra parte. Você passa a ser funcionário do quadro e tem mais garantias. O ordenado é de 250$000 por mês. Atualmente você não tem garantia de espécie alguma, pois está sujeito a ser dispensado de um momento para outro, dado que a frequência da Escola diminua. É possível que eu seja nomeado dentro de poucos dias (diretor ou chefe), e sigo para organizar a repartição” “Bento Ferreira” ( atual diretor da Escola).
Sem esperança de lhe ouvir ontem, pois não descobri possibilidade alguma, tive que resolver sobre a resposta, sem combinarmos, ontem mesmo, pois se tratava de um caso urgente. Respondi o seguinte: “Aceito agradecido”; mandei por telegrama, para encontrar o Diretor no Rio de Janeiro, de onde me escreveu.
Não sei como lhe parecerá a minha resolução: má, se atender às cousas superficialmente; porém boa , muito boa, estudando-se o caso com ponderação , pondo tudo em seus lugares. Deixando fora motivos que só podiam ser explicados em uma longa conversa, fica ainda, a favor de minha resolução, o fato de não haver muito boa vontade da parte de pai para com a minha pessoa, o que, de certo modo perturba por completo todo o meu regime financeiro.
Necessito pois, para me libertar, de uma completa mudança de vida; e, aparecendo a oportunidade de que trato, foi muito justo que eu aceitasse agradecido.
Falei com Alberto e Oscar sobre o mesmo assunto; creio que eles já falaram aí em sua casa; creio que tudo, como eu desejava, chegou ontem mesmo ao seu conhecimento.
Quanto ao… mais, para poupar tempo, só digo que sou e que serei homem.
Gostarei de lhe ouvir; lendo… também lhe ouço.
Sou, com a devida consideração, o de sempre
Oseas E. Santo.

Aracaju, 23 de junho de 1920.

Oséas:
Primeiro que tudo quero agradecer-lhe o ter se lembrado de mim para dar  a resposta ao convite que teve.
Logo que os meninos chegaram em casa segunda-feira, foram contar a mamãe o convite que lhe fizeram e a resposta que deu; eu, quando ouvi falar em seu nome, prestei atenção e assim soube que  ia embora para se empregar; mas não tive esclarecimentos. O primeiro pensamento que tive foi que tinha aceitado este emprego porque não me tinha amizade; mas vendo as razões que me dá em sua carta acho que fez muito bem e que só podia fazer assim, embora seja para mim muito, muito triste! Esperarei no entanto com paciência, até o dia em que voltar novamente para aqui; e tenho confiança de que não me esquecerá, como eu não o esquecerei nunca! No dia 2 de julho começam as aulas; talvez ainda possamos conversar um pouco. Quando me dá seu retrato? Logo que me der o seu lhe darei o meu; agora que vamos ficar separados e que não poderei mais vê-lo, será o meu único consolo- olhar seu retrato- e talvez ler suas cartas. Desculpe estar tão mal escrita, mas escrita as pressas para que ninguém desconfie só pode ser assim.

Sua sempre afetuosa
Lydia.

Aracaju, 11 de outubro de 1920.

Lydia;
Fiquei bastante contrariado com aquelas referências muito mal cabidas de ontem de manhã feitas por Eutíchio, e estou certo de que elas também lhe causaram o mesmo aborrecimento, porque já conheço mais ou menos o seu modo de sentir.
Houve, como ficou entendido, algumas interrogações indiscretas, mas foram nascidas exclusivamente dele mesmo, Eutíchio, em coro com a família e com Antonieta, que são, parece, as cabeças mais levianas da nossa Igreja.
São intrusos assim que ocasionam, aqui e em toda a parte, os casamentos precoces e muitos outros desarranjos; creio, porém, que nada conseguirá alterar o curso de nossa vida, a qual deve estar sempre sob os cuidados de nosso Deus.
De tudo, o pior é a posição em que fico colocado, por tais coisas, diante de seu pai e de sua família, aos quais tanto estimo. Acho difícil continuar me portando diante dos seus como sempre me tenho portado e acho mais difícil ainda fazer qualquer diferença, que, no final de contas, poderá despertar até maior curiosidade da parte dos linguarudos. Continuarei, pois, vivendo como de costume.
A bem da harmonia e poupando o aparecimento de seu nome, julgo mais prudente não tomar em consideração a ignorância de Eutíchio.
Tenho o desejo natural de viver a par de tudo quanto nos diz respeito; como não é possível, porém, contento-me em ir sabendo das coisas aos pouquinhos, a medida que vou interpretando os fatos.
Para não ser mais prolixo, termino aqui, firmando-me com respeito e consideração.
Oseas E. Santo

Aracaju, 20 de Outubro de 1920.

Oseas:
Eu estou muito triste com uma coisa que soube que você disse de mim. Tenho quase a certeza de que disse mesmo, porque outra pessoa não podia ter se lembrado de dizer e porque eu tenho pensado muitas vezes que é assim mesmo; eu, no entanto queria que tivesse dito isto a mim e não a outra pessoa. Isto foi dito ha muito tempo e quantas pessoas já não saberão? Só eu estava enganada. E agora, que sei da horrível realidade, tenho que fingir-me alegre e me rir, quando só tenho vontade de chorar, para que ninguém desconfie do motivo porque eu vivo triste. Eu não lhe digo logo o que é, porque quero primeiro ter a sua promessa de que não contará a ninguém e não perguntará coisa alguma à pessoa que disse que você tinha dito.
Sua triste amiga
Lydia.
Eu acho bom, que quando tiver de me entregar alguma carta, entregue-me antes aqui na porta, do que na Igreja como me disse; eu tenho pensado que é melhor assim, porque pode na própria hora em que você for me dando, uma pessoa pedir e eu fico sem saber o que faça. Quando eu der três pancadas na porta, é porque tem gente na sala e não deve dizer nem me entregar nada; quando eu não bater é porque pode falar e me dar qualquer coisa, e se eu der somente uma pancada, é porque pode me dar qualquer coisa mas sem falar.
Lydia.

Aracaju, 21 de outubro de 1920.

Lydia:
Já são quase onze e meia da noite e não sei ainda o que deva lhe escrever; perdi o sono e, com a triste certeza de sua contrariedade, fiquei com a mente em confusão.
Quando eu quiser lhe contar um segredo, direi: “Lydia, isto é um segredo”; a confiança que tenho se dará por satisfeita, não exigindo mais promessas.
Faltam quinze minutos para meia noite; estou vexado para ver esta noite terminada. Passarei por sua porta entre meio dia e uma hora da tarde; creio que você compreenderá bem o que ora sinto e o que ora desejo. Depois escreverei prolongadamente, fazendo entrega, talvez, sábado de manhã. Só preciso ir ao dentista na próxima quarta- feira.
Nem escrito por sua própria mão, eu me convenço de que você é amiga, simplesmente amiga.
Eu sinto, bem dentro de mim, Lydia, que lhe sou alguma coisa mais do que amigo.
Como estou escrevendo aos pedacinhos, é possível que esteja tudo em desconexão.
Já são doze e vinte, felizmente.
Sou o seu mais que amigo
Oseas.

Aracaju, 22 de outubro de 1920.

Oseas;
Eu estou muito arrependida de ter lhe escrito aquela carta; eu devia sofrer só e não fazer com que você, por minha causa. deixasse de dormir. Eu lhe pedi uma promessa de não dizer a ninguém, porque trata-se de uma cousa dita por Laura e ela sendo sua prima, talvez você quisesse perguntar qualquer coisa a ela o que eu não gostaria; eu lhe pedi porque confio na sua palavra. Ela disse e me contaram que você tinha dito que se resolveu a me dizer que gostava de mim, por causa da  família do sr. Eutíquio viver só a dizer isto e assim papai podia saber e pensar mal de você; mas que gostava de mim como de qualquer outra moça. Eu sempre tenho alguma esperança de que, se disse isto em algum tempo, já não pensa do mesmo modo; mas seja como for, peço-lhe que me diga a verdade. Eu não sou simplesmente sua amiga, como pensa que eu quis dizer ao escrever “sua triste amiga”; você é a pessoa a quem eu quero mais bem no mundo; e, quando se quer tanto bem a uma pessoa como eu lhe quero, não se é simplesmente amiga.
De quem é e será eternamente sua
Lydia.

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